ESPERA, TEM CAFÉ!


Tatiane Simon 
Tarde de domingo com a família Vilanova

Quem nunca recebeu aquele amigo que não via há anos ou a tia que foi morar em outra cidade e só visita a família muito raramente e quis agradar com a frase do título? Cativar uma pessoa querida em casa, mesmo que por pouco tempo, requer afeto e faz parte dos bons costumes. Na cidade de Frutal, em Minas Gerais, a dona de casa Dona Rejane Queiroz é mestre em usar o “Espera, vou passar um cafezinho. É rapidinho!”. De acordo com a mineira, o costume foi passado de geração em geração. Como revela: “É uma tradição muito antiga. Me lembro da casa da minha avó, de quando ela fazia o café. Isso se estendeu para a casa dos meus pais e depois do meu casamento para minha casa”. As duas famílias (a dela e a do marido, Seu Rogério) sempre tiveram este hábito. Com a expectativa de manter a visita por mais alguns minutos em casa, Dona Rejane passa o café e a mesa é posta. Ela garante que a técnica funciona. “O café proporciona esse elo entre a conversa e a família. Entre um cafezinho e um pão de queijo, a conversa se prolonga muito, estreitando esses laços.”

NA MESA
Em terras paulistas, na cidade de Penápolis, a família Vilanova tem a mesma tradição que a família Queiroz, em Minas Gerais. A família penapolense também crê que o café aproxima pessoas e fortalece laços. Duas tradições fortes na família Vilanova são: aos domingos de manhã quase todos os irmãos se reúnem para um farto café da manhã na casa da enfermeira dona Maria Vilanova, que mora até hoje na casa que os pais viveram. A outra é uma história antiga e de negócio. Os irmãos, maridos, esposas e filhos vão à missa e à feira no início da manhã, e de praxe, em seguida, na antiga casa dos pais, dona Helena e seu Diogo Vilanova, para juntos, tomarem um café quentinho e comer de cada quitute um pouco. O costume é tão forte que se um domingo passar em branco é como se a semana não tivesse terminado. Uma das filhas de dona Helena e seu Diogo, a empresária Meire Vilanova, mora na cidade, Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, e vem à Penápolis todos os finais de semana para ajustar os negócios que tem no interior de MS e cumprir com o ritual familiar. Ela conta: “São quase 300 quilômetros de lá até aqui e alguns pedágios que são compensados quando vejo toda essa gente em volta da família. Mesa farta, comida boa e caseira, um café fresquinho e sempre um bom papo com meus sobrinhos”. O tradicional café da manhã da família Vilanova não leva menos que três horas. Mas tão incomum quanto um domingo sem café e parentes em volta da mesa é o almoço que se estende. Firmar negócios com uma xícara de café na mão do cliente e outra na do empresário também é uma das relações que a bebida consegue proporcionar. E na família penapolense isso também aconteceu.

Entre as décadas de 1940 e 1950, o patriarca da família, seu Diogo Vilanova, era um homem de negócios em Penápolis. Vilanova comercializava adubos para a pastagem. O escritório (pequeno e humilde) ficava na parte da frente da casa da família. E é válido lembrar: o escritório ainda existe, no mesmo lugar (com algumas adaptações nas instalações) e com a mesma função. O filho mais velho da família herdou o negócio e segue com o ramo. Na época, seu Diogo, começava a negociar no escritório a quantidade e o valor do adubo, mas era só na cozinha de casa que a compra era firmada e negócio feito de verdade. Dona Helena, “passava” um cafezinho mais que depressa e junto um pão caseiro com manteiga de fabricação também própria. Desse jeito era quase que falta de educação com a família não apertar as mãos e selar negócio. Esse ritual se prolongou após a morte do chefe da família, seu Diogo, pelo então filho mais velho no escritório e dona Helena em casa, sempre de prontidão para fazer um café.


A bebida que atravessou séculos

Café na Arte


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